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Acqua alta em Veneza, o que acontece na cidade quando a maré sobe?

Dentre todas as peculiaridades de Veneza, o famoso fenômeno da “acqua alta” é um dos que chama mais atenção dos visitantes. Em tempos de internet e redes sociais, as imagens da Praça São Marcos completamente alagada em poucos segundos ganham o mundo. Mas como entender o que é a acqua alta e, principalmente, o que esperar do fenômeno se ele acontecer exatamente quando você estiver em Veneza?

Afinal, o que é a “acqua alta”?

Em prática a “acqua alta” é como é conhecido em Veneza, o fenômeno da maré alta. A cidade é cercada pela laguna e pelo mar e foi construída sobre várias pequenas ilhas. Em alguns períodos do ano, a maré sobe e algumas partes de Veneza fica alagada por poucas horas.

Por que este fenômeno acontece?

Veneza está localizada em uma lagoa de frente para o Mar Adriático e o fenômeno acontece quando o vento com força superior a 25 quilômetros por hora sopra em direção à cidade. É este vento que empurra a água em direção à lagoa que tem uma bacia pouco profunda. Assim, ela é obrigada a receber muito mais água que tem a capacidade de conter. Além disso, contribui a maré astronômica, resultado da atração e movimento dos corpos celestes, principalmente o Sol e a Lua.

Em que período ocorre a “acqua alta”?

Geralmente a “acqua alta” acontece a partir do outono e durante o inverno, com maior probabilidade de ocorrer entre os meses de novembro e dezembro. Mas não pense que se você visitar Veneza durante este período irá necessariamente pegar a cidade alagada. Quando a maré alta acontece, somente algumas zonas de Veneza ficam alagadas, principalmente a região da Praça São Marcos, por ser a parte mais baixa da cidade. O fenômeno dura de 3 a 4 horas e logo depois, tudo volta ao normal.

Na prática, o que acontece?

A cidade já está acostumada a lidar com este fenômeno, já que há anos ele acontece. A “acqua alta” é previsível e como os boletins do tempo, a população pode ser avisada de sua decorrência. Quando a previsão é de que a maré supere os 110 cm, os venezianos recebem o aviso a partir de um serviço de mensagens de celular. É possível consultar no site do Comune de Veneza a situação da maré.

Nos pontos mais afetados, são montadas passarelas que as pessoas podem percorrer sem se molhar. Em alguns casos, os vaporettos têm de mudar seu percurso ou algumas corridas podem ser canceladas ou diminuídas. A boa notícia é que a maré alta dura apenas algumas horas, é o tempo que a água escorra para o mar. Se você estiver numa zona da cidade não atingida, pode ser que nem note que o fenômeno aconteceu quando passar por exemplo pela Praça São Marcos. O que fica são os sinais a água, como se tivesse ocorrido uma chuva.

Quando a maré é considerada alta?

Em Veneza, o nível da água é medido em base ao zero mareográfico da Punta della Salute, correspondende ao nível médio do mar no ano de 1897. Quando a maré chega a +100 cm, somente 5% da cidade fica alagado; +110 cm: 12%; 120 cm: 28%; 130 cm: 46%. Se a maré atinge +140 cm, a cidade pode ficar alagada em mais de 59%. Esta é a chama maré excepcional, que estatisticamente ocorre uma vez a cada 3 anos. Estatisticamente, a maré alta supera os 110 cm somente 4 vezes por ano, portanto não é assim tão frequente que 12% da cidade fique alagada.

O que devo fazer se pegar a “acqua alta” em Veneza?

Muita gente acha que a maré alta faz com que a cidade e o passeio fiquem impraticáveis. Não é bem assim. A área de maior incidência é a Praça São Marcos, e ao menor sinal de “acqua alta” as passarelas são montadas e o turista pode transitar nos locais. É claro que tudo fica mais cheio, já que o espaço diminui. Alguns turistas se aventuram e tiram os sapatos, eu particularmente prefiro ficar bem longe da água. As botinhas de plástico vendidas nas barraquinhas ou nas lojas adjacentes à praça ajudam quem não veio preparado e custam 10 euros. Uma opção é explorar outros bairros da cidade, as ilhas de Murano, Burano, ou os museus.

A “acqua granda” de 1966

No dia 4 de novembro de 1966, Veneza viveu o maior episódio de maré alta da sua história. Naquele dia, a maré excepecional atingiu a altura recorde de 194 cm. Um vento fortíssimo e os rios cheios por causa de uma chuva abundante, aliados aos fenômenos metereológicos contribuíram para que a água chegasse a um metro e meio no Palazzo Ducale. A cidade ficou completamente isolada, sem luz elétrica, gas e telefone. A água demorou muito tempo para baixar, quase 24 horas e deixou a cidade no caos. Lojas, mercadorias, patrimônio artístico, andares térreos das casas foram devastados. A cidade precisou de tempo para se recuperar e da ajuda de entidades como a UNESCO e associações de preservação do patrimônio para se reerguer.

 

12 replies
  1. Maria Glória D'Amico
    Maria Glória D'Amico says:

    Olá Isa, tudo bem?
    Faz tempo que não navegava pelas tuas águas e hoje estive aqui, naveguei por tantas páginas e como não poderia ser diferente, gostei muito de todo o conteúdo.
    Um beijo querida e bons dias!

    • Isa Discacciati
      Isa Discacciati says:

      Oi,Querida,
      Que saudades. Que bom te ver por aqui, obrigada pela sua companhia.
      Um beijo grande,
      isa

  2. Margarete Goltl
    Margarete Goltl says:

    Olá Isa! Sou de São Paulo e estive em Veneza a menos de 1 mês e fiquei encantada …. adorei seu post e espero que um dia eu volte para Veneza e arredore… Um abraço …

  3. Céres Bezerra
    Céres Bezerra says:

    Olá! Gostei muito de tudo que li por aqui. Uma dúvida, na “acqua alta’ há perigo de se contrair algum tipo de doença? Tenho medo de ir nessa epoca, mas já estamos com passagem comprada…

  4. Rodrigo
    Rodrigo says:

    Que texto bom. Informativo, claro, completo e com todas as ferramentas de consulta. Muito obrigado!

  5. JOSE BENEDITO DA SILVA
    JOSE BENEDITO DA SILVA says:

    MUITO BOM ESSE NOTICIÁRIO. AGORA SABEREI ME COMPORTAR QUANDO ESTIVER NA VENEZA E FOR SUPREENDIDO COM TAL FENÔMENO NATURAL. NÃO ME DISSERAM ISSO EM SETEMBRO DE 2012 QUANDO VISITEI ESSA CIDADE LINDA.

  6. Cássia Gomes
    Cássia Gomes says:

    Sou Professora Doutora em Biossegurança e fico espantada, como há diferenças entre alagamentos no hemisfério Norte e sul. Se fosse aqui, doenças e desabrigados, fome e necessidades básicas estariam na manchete.

    • Isa Discacciati
      Isa Discacciati says:

      Olá,Cássia,
      Eu posso sim imaginar. São situações bem diferentes, acredito eu.

      isa

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