Rosalba Carriera, artista e empreendedora na Veneza do século 18
Se ainda hoje a mulher empreendedora se depara com tantas pedras no caminho, imaginem poder trabalhar, progredir e viver de seu próprio talento na virada do século 18. Hoje apresento a você, Rosalba Carriera, artista e empreendedora na Veneza do século 18.
Rosalba nasceu no final do século 17 e, até então, a fazer história na arte, tinham sido os homens. O ambiente dos ateliês era exclusivo deles. O estudo da anatomia humana e dos nus era impensável no currículo de uma mulher. Para elas sobravam a natureza morta e os retratos.
Rosalba seguiu seu caminho, aproveitando da experiência na realização de desenhos para os bordados que fazia com sua mãe. A técnica exigia muita precisão e concentração e assim ela foi dando seus primeiros passos no mundo da arte.
A formação de Rosalba e suas irmãs foi extremamente importante para o que viria a seguir. Elas receberam uma ótima educação, com lições de música, filosofia, pintura e línguas, o que não era muito acessível na época.
A precisão desenvolvida com os bordados ajudou Rosalba a se especializar na realização de miniaturas, pintando em ossos e marfim. As decorações eram aplicadas em porta joias e nas caixinhas que guardavam tabaco. O que era moda na época hoje é uma preciosidade dos acervos de museus do mundo inteiro.
A maestria dos pastéis
Mas foi utilizando a técnica do pastel que Rosalba se tornou famosa em toda Europa. Ela inaugurou também um novo estilo, o rococó, que trazia consigo delicadeza, elegância e graça, atributos tão íntimos à sua personalidade.
Pintando retratos de personalidades, nobres e monarcas, ela criou com perspicácia seu próprio espaço. Trabalhando desta maneira, ela não precisaria competir com os pintores homens que se dedicavam a pintar principalmente os retábulos dos altares das igrejas e afrescar os palácios e as vilas vênetas.
Rosalba e suas irmãs Angela e Giovanna foram grandes empreendedoras. Elas conseguiram fundar um ateliê de excelência e o administravam com muita habilidade. Em uma época de pouca liberdade para as mulheres, elas construíram relações com membros da alta sociedade europeia a quem vendiam os quadros.
Uma carreira de sucesso
Em 1720, com uma carreira já estável, Rosalba parte com a mãe e uma das irmãs para Paris. E são muitos os pintores parisienses que fazem questão de conhecer a famosa mulher veneziana que realizava os mais belos retratos da época. Em Paris Rosalba realiza 76 quadros e 21 miniaturas.
Mas é em seu ateliê veneziano que Rosalba Carriera tem seus melhores momentos. Ali ela retrata outras grandes mulheres venezianas de sua época, com quem tem uma grande amizade. A cantora Faustina Bordoni, a bailarina Barbara Campanini e a poetisa Luisa Bergalli.
Em seus últimos anos de vida, Rosalba Carriera sofreu com a perda gradual da visão, o instrumento que a tornou uma das maiores artistas mulheres de todos os tempos. Ela morreu em 1757, aos 82 anos, ao lado da sua fiel irmã Giovanna.
Seu percurso, marcado pelo sucesso e reconhecimento de seu talento pode ser visto na série de autorretratos que ela deixou. Do primeiro, de 1709, conservado na Galleria Uffizzi, em Florença, ao último, de 1746, onde ela se retrata não como gostaria, mas como era naquele momento: uma senhora cansada e idosa com sérios problemas de vista.