O turismo de massa vai acabar com Veneza?
Um cartaz polêmico no centro histórico de Veneza trouxe à tona uma discussão que, pelo menos por aqui, não é novidade e sim rotina. Insatisfeitos com o comportamento dos turistas, um grupo de moradores colou em um campo próximo à Praça São Marcos um cartaz com os seguintes dizeres: “Tourists, go away, you are destroying this area”. A foto do cartaz “Turistas, vão embora, vocês estão destruindo a cidade” girou o mundo, mas algumas notícias que perturbam o dia a dia da cidade não ultrapassaram os confins da internet. O turismo de massa vai acabar com Veneza?
Veneza recebe anualmente 30 milhões de turistas. Especialmente no verão, as visitas crescem e a situação torna-se insustentável. Além dos turistas que chegam pela estação de trem, e de ônibus e carro pela Piazzale Roma, existem ainda os navios de cruzeiro que desembarcam na cidade. Em 2015, 1 milhão e meio de pessoas chegaram a Veneza com os navios.
A cidade museu a céu aberto, Patrimônio da Humanidade UNESCO tem muitas fragilidades. Veneza foi construída contrariando regras lógicas, sobre pequenas ilhas anexadas umas às outras. Quem conhece a história de como Veneza foi construída, entende que esta não é uma cidade qualquer. Os palácios, monumentos, igrejas não guardam dentro de si só arte e história, mas também o orgulho de um povo que se fortaleceu no meio das adversidades.
Moradores x Turistas
As estatísticas mostram que a cada ano Veneza ganha mais turistas e perde residentes. É o mesmo fenômeno que tem acontecido em Barcelona. Em 2015, (dados do Ufficio Statistica del Comune) o centro histórico perdeu 956 habitantes. Hoje são 55.075 pessoas e a idade média dos moradores é de 47 anos.
Todos os dias os residentes convivem com o turismo massivo. É muito óbvio que a principal fonte de renda da cidade provenha destas visitas, mas é necessário encontrar um equilíbrio entre a saúde financeira e a saúde física da cidade. Nas últimas semanas, os jornais e a internet denunciaram atos de desrespeito ao patrimônio histórico e à boa convivência em Veneza, o que causou ainda mais revolta nos moradores.
Entre as ocorrências estão fatos bizarros como a história do marinheiro neozelandês que, bêbado, se jogou da Ponte de Rialto e caiu em cima de um táxi barco. Ou o grupo de jovens turistas que de calção e biquíni estava para mergulhar no Canal Grande quando foi abordado por uma veneziana que os impediu de saltar. E eles não eram os únicos. Semanalmente no verão turistas são flagrados mergulhando nos canais. Além de ser proibido é perigosíssimo devido ao grande fluxo de barcos e gôndolas.
Outra foto que chocou a internet foi feita por um gondoleiro a poucos passos da Praça São Marcos. Uma mulher que abaixa as calças e faz suas necessidades ali mesmo sobre os olhos incrédulos das pessoas. E as cenas de incivilidade não param: a cena de uma mãe que leva seu filho pequeno para fazer xixi no canal, mostra que o mau exemplo é um risco para o futuro da cidade.
Outra imagem corriqueira é a de turistas que fazem suas refeições ao ar livre sentados nas escadarias de palácios históricos, como se estivessem na própria casa, sem o menor pudor. E homens sem camisa, deitados à beira do canal, como se Veneza fosse uma grande praia ou um parque de diversões.
O que pode ser feito para evitar
O papel do poder público é fundamental. O polêmico cartaz dos moradores informando claramente aos turistas que eles não são bem vindos não é a solução. Um projeto educativo de comunicação, voltado ao turista, com a participação dos grandes portais de reservas online, blogs de turismo, agências, hotéis, restaurantes é de suma importância.
Aliado à prevenção, é necessário um controle maior por parte dos chamados “vigili urbani”, uma espécie de guarda municipal. O “sindaco” (prefeito) da cidade relata que falta pessoal para trabalhar, mas defende as multas e a prisão dos infratores. Muitos falam também de uma limitação ao ingresso dos turistas na ilha, mas não existe ainda nenhum projeto concreto neste sentido.
O mais importante é que cada um chegue a Veneza ciente do que tem na sua frente: uma cidade única, de beleza incomparável, de história, de arte. E a respeite como se fosse sua própria casa.
O que você pode fazer
Existe uma série de regras destinadas ao turista para o bom convívio e a manutenção da ordem na cidade. É uma lista de boas práticas instituída pela cidade de Veneza. São elas:
1 – Jogar os detritos nas lixeiras. É bem possível que você encontre muitas delas cheias, mas pense que a quantidade de gente que passa por Veneza diariamente é enorme, tenha paciência e mantenha o lixo com você até que encontre um recipiente para depositá-lo.
2 – Refeições ao ar livre: é proibido em toda a área da Praça São Marcos e nas pontes, para não atrapalhar o fluxo de pessoas. Se não tiver como comer em um restaurante, procure locais mais vazios com banquinhos e não deixe lixo no chão.
3 – Como se vestir: é proibido caminhar pela cidade com roupas de praia (sunga,biquíni,calção), ou a peito nu. Vale reforçar que mergulho e banho nos canais, nem pensar.
4 – Não dê comida aos pombos: eles trazem doenças e são um risco para os edifícios e belezas da cidade.
5 – Não cole cartazes, grafites e escreva nos muros e monumentos.
6 – Como caminhar nas ruas estreitas e pontes: para evitar “engarrafamentos” mantenha sempre à direita e nunca pare nas pontes mais cheias.
7 – Meio de transporte: se for usar o vaporetto, respeite a fila. Se estiver de mochila, tire das costas e apoie no chão.
8 – Em caso de maré alta: use as passarelas e mantenha-se sempre à direita.
9 – Não compre produtos de vendedores não autorizados. São produtos de baixa qualidade e o comércio ameaça a economia local e o trabalho dos verdadeiros artesãos.
10 – Depois das 23 horas prevalece a lei do silêncio. Em respeito aos cidadãos, não faça barulho.
Vale lembrar que as bicicletas são proibidas em Veneza.
Veneza é única e exige, com toda propriedade, respeito. Ninguém quer que o turismo de massa e a presença de pessoas mal educadas e incivis acabem com a cidade. Os moradores querem conviver de forma pacífica com os forasteiros e compartilhar a história e as belezas da própria cidade.
Se você também ama Veneza, sinta-se à vontade para compartilhar este post. Quanto mais pessoas estiverem conscientes do quanto esta cidade é especial e precisa de nós para se manter viva, melhor.
Isa,
Vi no snap sobre esse post e vim correndo ler.Chocada com o desrespeito dos turistas!Veneza não merece isso!!Uma campanha de educação,fiscalização e número delimitado de turistas acho que seriam a solução
Grande beijo
Oi,Vanessa,
Pois é. O poder público tem que agir seja na prevenção que no controle. E as pessoas têm que ser mais respeitosas com a cidade. Como disse, não acho que um cartaz espantando os turistas seja uma boa ideia. Obrigada por registrar aqui sua opinião.
Bjos,
Isa
Estive agora em julho (2016) em Veneza. Até o gondoleiro falou da situação precária dos habitantes que não conseguem mais viver em Veneza. Não existe um controle dos produtos artesanais de Murano versus os fabricados na China. Nao se sabe qual lojista é sério e comprometido com a cultura local. Ouvi dizer que os chineses estão se apropriando de Veneza! Muito turista nessa época: Novamente, não encarei a fila pra visitar a Basílica de São Marcos….”terei” que voltar a Veneza!
Oi,Fatima,
Sim, os problemas sao inumeros. Cabe aos turistas demonstrar educaçao e respeito, aos moradores a cobrar uma atitude do poder publico. Espero que a situaçao melhore. E volte sim. A visita à Basilica é imperdivel.
Um abraço,
Isa
Boa tarde, estive pela primeira vez nesta linda cidade em outubro de 2015 com meu marido. Acho o “aviso” um ato de desespero. Entendo perfeitamente os sentimentos dos venezianos moradores ou não da cidade. Moro em Copacabana e sinto muito isso ” não querendo comparar completamente” pois è impossivel. Mas as pessoas não copacabanenses não tem respeito pelo bairro e sorry muito menos os turistas que lotaram o bairro nas olimpiadas.
Existem varios tipos de pessoas e com o numero “burral” de turistas permitido para entrar em Veneza não ha como não presenciar cenas animalescas como as fotos mostraram (fora a criança, esta è a mae mal educada e educando mal).
Acredito que o futuro de Veneza passe pela restrição de Fernando de Noronha. Vocês, blogueiras que tem acesso a milhares de pessoas podem comecar. Noronha tem restricao a tudo. Não conheço este pequeno pedaço do Brasil ainda, mesmo porque è caríssimo mas segue inviolavel mesmo nesta crise.
Acho um bom ponto de partida.
A humanidade perdeu limites. A juventude perdeu educaçao.
Mas tenho fè que vcs conseguirão rapidamente mudar o rumo desta historia.
Quero voltar ainda a Veneza.
Bjs
Oi,Susanne,
Sim, o ponto é exatamente este. As pessoas estao perdendo a educaçao, respeito e civilidade. Nao conseguem ou nao querem compreender a fragilidade do meio ambiente, seja em Veneza que em Copacabana. Eu fico chocada e chateada e o que puder fazer no meu pequeno para ajudar, vou fazer. Também tenho fé que as coisas mudem e nao quero mesmo ler essas noticias novamente no proximo verao. Obrigada por compartilhar seu pensamento e opiniao.
Bjs
Isa
Isa, também acabei de ver no snap e vim ler por aqui… porque tenho medo que isto também aconteça aqui no Porto 🙁
Parabéns !
Oi,Rita,
Que bom que voce veio ler! Obrigada. Estamos vivendo uma situaçao muito complicada. é complexo demais, mas acredito que o mais urgente é uma maior fiscalizaçao do poder publico e uma açao efetiva de comunicaçao. Nao quero mesmo rever essas noticias no proximo verao.
Bjos,
Isa
Muito triste, Isa! E em Veneza, por ter características tão particulares o problema se torna mais grave. Educação e respeito, ao próximo e à natureza, são regras de boa convivência em qualquer lugar do mundo.
Beijos
Oi,Ana,
Sim. A mensagem que queria passar é essa. a gente tem que ter respeito por qualquer lugar que a gente passa.
Bjos,
Isa
Olá Isa,
Vi no Snap tb e de primeira o cartaz assusta e.pode.mesmo dar uma idéia errada. Seu post é excelente, deu direitinho a noção da importância de se fazer algo já para proteger essa cidade maravilhosa que tanto gostamos.
Na minha opinião é sobre educação, todos precisam saber como se portar, o que pode e não, mesmo que algumas coisas que você citou sejam óbvias,mas…
Ótima iniciativa sua, vou compartilhar e assim vamos tentar melhorar as coisas,o que será ótimo para todos nós,que queremos Veneza linda, em paz e perfeita como ela é.
Obrigada e bjos!
Querida Lucienne,
Muito obrigada. Fico contente que tenha sensibilizado voce nessa. A gente tem que se preocupar com essas questoes que sao realmente relevantes. Eu nao quero que o turismo acabe com Veneza. Muito pelo contrario, gostaria que todos tivessem a chance de conhecer essa cidade maravilhosa.
um bjo,
Isa
Oi, Isa! Excelente artigo! Muito fácil interpretar o cartaz considerando só o lado sos turistas e acusar os venezianos de falta de hospitalidade… tudo tem seu outro lado da moeda! Há algum tempo li no jornal que estão estudando a possibilidade de implementar uma espécie de ZTL para pedestres em Veneza… Seria bom se pudesse existir, né?! Bjos! 😉
Oi,Babi,
Obrigada por ter lido e deixado sua mensagem. A gente tem que analisar tudo de forma sistemica, mesmo sendo a coisa muito complexa. No nosso pequeno devemos fazer algo para ajudar. Vou procurar saber essa historia da espécie de ZTL pois ainda nao li sobre isso. Valeu!!
Bjo
Isa
Além da conscientização, acho que deveriam limitar o número de turistas, como é feito em Fernando de Noronha. Porque são lugares especiais.
Oi,Leonor,
Muita gente fala sobre isso, mas ainda nao fizeram nada de concreto. Acredito sim que poderia ajudar e espero que as coisas por aqui melhores. Obrigada pela tua contribuiçao.
Abraço,
Isa
Muito interessante o texto.
Quando fomos a Venza no ano passado, ficamos em um apartamento em uma área “menos turística” da cidade, e fiquei impressionada, que alguns casarões estão abandonados. Conversando com moradores, eles disseram que muitos dos prédios estão sendo comprados por turistas que não aparecem na cidade, ou a família não consegue manter.
Triste… e Veneza é tão linda!
É complicado controlar comportamento desrespeitoso de turistas … triste.
Oi,Mirella,
Exatamente! Tem o problema também da gentrificação que é muito complexo. A especulação imobiliária é forte e infelizmente muitos venezianos não dão conta e são obrigados a sair do centro histórico. É a grande preocupação dos venezianos que conseguem continuar vivendo na ilha, que daqui a pouco não sobre mais ninguém.
Bjs,
Isa
Realmente uma tristeza só , certos comportamentos dos turistas: falta de educação , de civilidade, enfim falta de tudo. Me entristece e chateia, quando em viagens vejo esses desreispeito para com lugares sagrados , patrimônios históricos . Tanto nos atos , como nas vestimentas . Um horror. !
Angela,
Sim. No verão é um grande problema. Não é pudor, é questão de falta de respeito e educação até o modo como as pessoas se vestem. Como disse, em Veneza é proibido roupa de banho e peito nu. E tem gente que frequenta a cidade assim.
Bjos,
Isa
Londres sofre o mesmo problema, porém é bem maior e a maioria das pessoas mora fora do centro turístico e evita ir pra certos lugares em dias de mais movimento (quando possível). Mas é visível a falta de respeito quando se anda nas ruas e no metrô! Aqui tbém tem o problema da superpopulação de gente que vem morar temporariamente só pra fazer dinheiro e está “defecando e caminhando” para o bem estar da cidade e seus habitantes! E um certo número de cidadãos que vieram de lugares onde higiene é artigo de luxo! Complicado!
Espero que consigam resolver o problema de Veneza. O cartaz foi uma atitude radical, mas só quem mora em cidades turísticas sabe que as vezes dá vontade de gritar “BASTA”!
Tanti baci bella!
Tina,
Morei no centro histórico de Firenze e nos meus dias de folga eu me arrumava e ia toda faceira passear. Eu dava meia volta assim que via a multidão de turistas. Morar em uma cidade onde o fluxo turístico é grande não é fácil. Porque os turistas estão de férias, em um clima relaxado de descontração, mas a vida do cidadão é normal, trabalho, afazeres, casa, família. Encontrar um equilíbrio entre esses dois personagens dentro de uma cidade é difícil, mas acho que a educação é um ótimo ponto de partida.
un bacione
isa
Fiquei tão triste quando soube destes fatos, Isa.
Tudo isso eu comentei em outro post. Total falta de respeito e educação. O cartaz, uma atitude de desespero, eu penso, denuncia que algo precisa ser feito.
Muito triste e preocupada. Conheço Veneza, tenho paixão por essa cidade e, ela não merece isso. Vamos colocar energia positiva para que essa situação se abrande.
OI,Eliane,
Sim, como disse, é necessária a conscientização de todos os envolvidos. Tomara que a situação mude.
Um abraço,
isa
Chocada com essas situações, mas pra mim a pior foi da mãe baixando a calça da criança para fazer xixi. Falta de respeito com a cidade e com os habitantes e os demais que por ali passam. Que as pessoas tomem consciência e que Veneza se torne um lugar melhor, tanto para os locais como para os turistas.
Fui para a cidade 2x e na última, em 2015 senti que os locais estavam sem paciência para os turistas. Notei também que o centro histórico no turno da noite ficava completamente abandonado. Espero voltar para uma Veneza mais pacifica e bem cuidada 🙂
Naiara,
Pois é, tem piorado, mas eu tenho esperança. Os últimos acontecimentos têm dado um sacolejo no prefeito para que as atitudes sejam tomadas.
Bjos,
isa
Acho um absurdo todas essas coisas, isso só deixa os residentes mais irritados com os turistas. Mas uma coisa me chamou atenção nessas fotos das pessoas fazendo suas necessidades na rua: estou favoritando vários lugares pra lanchar/almoçar/jantar, e percebi que muitos restaurantes, além de não possuir mesas (o que explica as pessoas comendo nas escadas), também não permitem usar o banheiro, mesmo consumindo nesses lugares. E aí? Se bater a vontade de ir ao banheiro em Veneza? Como faz?
OI,Elza,
Basta ir aos banheiros públicos. Custam 1,50 e são bem limpos.
Isa
Um lugar que é ícone de turismo de todo o mundo, obviamente atrai todo tipo de gente, então, até aquela máxima de respeitar a cidade como fosse a própria casa, acaba se tornando um slogan relativo, porque deve ter um tanto que vive num chiqueiro. Às vezes, pequenos detalhes podem não ser conhecidos, mas bom senso e educação são sempre de bom tom em qualquer lugar do planeta e nunca saem de moda. Essa superlotação é sempre um problema para a saúde da cidade. Importante conscientizar para isso.
Oi,Bella,
É verdade, acho que cada um deve fazer a sua parte. Eu faço a minha no meu pequeno, mas precisamos da colaboração de todos. Obrigada pela sensibilidade.
Isa